sábado, 28 de março de 2015

Sopa de barbatanas de tubarão estão desaparecendo dos restaurantes asiáticos

Em Beijing, Xangai, Guangzhou e Chengdu, na China, 85% das pessoas afirmaram ter parado com o consumo

por José Eduardo Mendonça, do blog Planeta Urgente - Planeta Sustentável
     
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Tubarão-martelo
Tubarão-martelo
Já era mais do que hora. Caçados impiedosamente, com as barbatanas arrancadas e devolvidos ao mar para uma morte após longa agonia, os tubarões estão sendo ajudados pela proibição do consumo da sopa de barbatanas de tubarão em muitos países e por mudanças de atitude na Ásia, onde o hábito se disseminou com o aumento da riqueza. Elas chegam a custar U$ 400 dólares o quilo.
A carne dos animais tem baixo valor, de 20 a 250 vezes menor que o das barbatanas. O comércio delas existe de uma forma ou outra na maioria dos lugares do mundo, impactando ecossistemas, estoques de peixes e o turismo potencial ou existente. Não há informações seguras sobre o montante delas. Dados nacionais não combinam com aqueles do grande mercado importador de Hong Kong, de maneira que dezenas de milhões dos tubarões somem das estatísticas.
De volta à água, sem as barbatanas os peixes não conseguem nadar ou soltar líquido pela guelras, morrendo sufocados, por perda de sangue ou pela predação por outras espécies. Jogá-los no mar é estúpido também do ponto de vista econômico e social, já que 90% da carcaça, fonte de proteína, é jogada fora.
Tubarões estão aqui há mais do que 450 milhões de anos antes de nós. No entanto, só no último meio século destruímos 90% de suas populações.
Há falta de dados sobre taxa ou ameaça de extinção de suas espécies. São conhecidas mais de 1200 delas e de seus parentes, as arraias. A União Internacional de Conservação da Natureza disse que as ameaçadas de extinção são 17 delas. Mas a taxa é certamente muito mais alta. Os níveis de procriação são muito diversos, e algumas terão mais dificuldade de se salvar.
A crise se acentuou com o forte crescimento econômico da China e outras nações do leste asiático. Antes disso, a maioria dos asiáticos não tinha dinheiro para pagar pela iguaria.
A matança é impressionante. Muitos países da África, Ásia e Oriente Médio não estão envolvidos em tratados internacionais de proteção e conservação e, ainda que estivessem, não teriam recursos para rastrear quais espécies estão sendo mortas em grandes quantidades. Alguns, com recursos, contornam a lei e pescam ilegalmente.
Até os anos 1980 e 1990 parte do massacre mais sangrento ocorria nos Estados Unidos que, depois de terem dizimado espécies como bacalhaus, arenques, linguados , atuns e peixes espada, promoveram a exploração dos tubarões como “recurso subutilizado”.
Notícias boas começam a chegar. O comércio global de barbatanas se encontra em declínio. Nos últimos dois anos, China, Hong Kong e Malásia proibiram a sopa de barbatana em eventos oficiais. Na Ásia, cinco grandes redes hoteleiras se comprometeram a não servi-la e 26 linhas aéreas concordaram em não mais transportá-las.
Em Beijing, Xangai, Guangzhou e Chengdu, na China, 85% das pessoas que responderam a uma pesquisa recente da WildAid afirmaram ter parado com o consumo. Estados Unidos, União Européia e Índia proibiram a atividade de extirpação das barbatanas, que hoje é ilegal em 100 países.
Avanços científicos também farão diferença no caso da conservação dos tubarões. Mais dados sobre as espécies serão supridos. Conservacionistas em todo o mundo esperam ansiosos os resultados de um estudo britânico que tem o objetivo de responder se é possível rastrear espécies ameaçadas através de DNA ambiental (eDNA). Se der certo, pesquisadores poderão criar mapas globais da vida submarina. Os métodos atuais são custosos, ocupam muita mão de obra, exigem que equipes permaneçam longos períodos no mar sem garantia de conseguirem informações desejadas.
“Basicamente, todas as coisas vivas são feitas de tecido, e e se você reduzi-lo a unidades cada vez menores, acaba tendo células”, explica Stefano Mariano, da Universidade Salford, em Manchester. “Cada célula de cada organismo contém DNA. Teoricamente, é possível colocar mecanismos de arrasto na água e recolher algum DNA vindo deste ambiente”.
“Se você for por exemplo a uma floresta tropical e souber que há uma porção de onças espalhadas por centenas de quilômetros, não vai vê-las a não ser que passe meses na selva e use câmeras ocultas”, diz ele. “O mesmo se aplica a grandes animais distribuídos no oceano, como baleias e tubarões. Para vê-los e monitorá-los, o orçamento é enorme. Se tudo der certo, promoveremos uma grande mudança, porque tudo que será necessário é coletar água o bastante”.
“Os métodos atuais de identificação das várias espécies de tubarões em uma área exigem um comprometimento significativo de pessoas, tempo e dinheiro”, afirma Katie Matthews, diretora do programa de ciência ambiental da organização Pew Charitable Trusts, uma das financiadoras do estudo.
Uma pessoa, um barco e uma garrafa de água, simples assim. A água é filtrada, o DNA analisado e assim se determina quais espécies estiveram na área. Com a diminuição rápida dos custos de processamento de DNA, parece que esta ferramenta de conservação marinha vai ser cada vez mais comum no futuro.