Pescadores filipinos pobres estão a ganhar milhões a “proteger” tubarões-baleia
Um grupo dos pescadores mais pobres do mundo está a proteger os tubarões-baleia ameaçados de extinção em Oslob, nas Filipinas. A atração turística divide opiniões em relação aos seus ideais.
Os pescadores pararam de pescar e viraram-se para o turismo, alimentando pequenas quantidades de krill a tubarões-baleiapara atraí-los para mais perto da costa, para que os turistas possam mergulhar com eles.
Oslob é o lugar mais confiável do mundo para nadar com peixes enormes. Em águas calmas, eles vêm até 200 metros da costa, e centenas de milhares de turistas reúnem-se para vê-los. Antigos pescadores passaram de ganhar apenas 1,40 dólares por dia em média, a ganhar 62 dólares por dia.
Um estudo publicado este ano na revista Ocean & Coastal Mana investigou o efeito que o turismo do tubarão-baleia teve sobre os meios de subsistência e a pesca destrutiva na área. Os cientistas descobriram que Oslob é um dos mais surpreendentes e bem-sucedidos projetos alternativos de subsistência e conservação do mundo.
Pesca destrutiva
A pesca ilegal e destrutiva, envolvendo dinamite, cianeto, armadilhas para peixes e redes, ameaça as espécies em risco de extinção e os recifes de corais nas Filipinas.
Grande parte da população depende do peixe como fonte principal de proteína e a venda de peixe é uma parte importante do rendimento de muitas pessoas. Assim como os barcos que pescam ilegalmente perto da costa à noite, os pescadores usam compressores e lanças para pescar arraia, peixe-papagaio e polvo. Mesmo os peixes mais pequenos e caranguejos são levados e vendidos a restaurantes turísticos.
Apesar da legislação para proteger os tubarões-baleia, eles ainda são caçados e pescados vivos. “Temos leis para proteger os tubarões-baleia, mas eles ainda são mortos e abatidos”, disse o vereador de Oslob, citado pelo The Conversation.
“Finning” é uma prática particularmente cruel: as barbatanas de tubarão são cortadas e o tubarão é devolvido de volta ao oceano, muitas vezes vivo, para morrer de sufocamento. As barbatanas são vendidas ilegalmente no Taiwan para distribuição no sudeste asiático. As barbatanas grandes são muito apreciadas para exibir em lojas e restaurantes que vendem barbatana de tubarão.
Oslob paga a patrulhas marítimas para proteger os tubarões-baleia. O financiamento também é fornecido para gerir cinco reservas marinhas e aplicar a legislação para impedir a pesca destrutiva ao longo dos 42 quilómetros de costa. Os locais patrulham a costa. “A aplicação das leis é muito rigorosa agora“, disse o pescador Bobong Lagaiho.
A pesca destrutiva diminuiu. A captura de peixes aumentou e espécies como a cavala estão a ser capturadas pela primeira vez em Tan-awan, a reserva marinha onde os tubarões-baleia se reúnem.
Maior o lucro, mais forte a conservação
O projeto em Oslob foi feito por pescadores para fornecer uma alternativa para a pesca num momento em que eles não conseguiam o suficiente para alimentar as famílias três refeições por dia, educar os filhos ou construir casas fortes o suficiente para resistir a tufões.
“Agora, as nossas filhas vão para a escola e temos casas de betão. Se houver um tufão, não teremos mais medo. Nós estamos felizes. Podemos tratar os nossos filhos com boa comida, ao contrário de antigamente”, disse Carissa Jumaud, esposa de um pescador.
Criar novas formas de rendimento é uma parte essencial da redução da pesca destrutiva e do excesso de pesca nos países menos desenvolvidos. Os conservadores investiram centenas de milhões de dólares em vários projetos, mas estudos constataram que raramente funcionam e podem até ter efeitos negativos.
Por exemplo, os microempréstimos a pescadores na Indonésia, destinados a financiar novas empresas, foram usados para comprar mais equipamentos de pesca.
Em contrapartida, Oslob faturou 18,4 milhões de dólares com a venda de bilhetes entre 2012 e 2016, com 751.046 visitantes. Os pescadores passaram de 512 dólares por ano para, em média, 22.699 dólares.
Agora, eles só pescam no seu tempo livre. “Depois de proteger os nossos tubarões-baleia, concluímos que temos a obrigação de proteger os nossos recifes de corais porque os tubarões-baleia dependem deles”, disse o vereador.
Nem tudo é um mar de rosas
A alimentação de tubarões-baleia é controversa, e alguns ambientalistas ocidentais tentaram fechar Oslob.
Embora existam regras destinadas a proteger o bem-estar dos tubarões, como por exemplo uma zona tampão de três metros, a realidade é semelhante à de um aquário sem barreiras — explica o Channel News Asia. Dentro de água, os turistas testam os limites daquilo que é permitido e não resistem a tocar nos tubarões.
Anualmente são mais de meio milhão de turistas a participar nesta atração filipina, com cada um deles a pagar cerca de 19 dólares. O mesmo jornal refere que os interesses em Oslob, ao contrário daquilo que é sugerido por outros, são puramente económicos.
“Vários anos depois, os pescadores podem agora enviar os seus filhos para a escola e podem ter casas e carros bonitos. O estilo de vida melhorou“, disse Elizabeth Benologa, responsável pelo turismo municipal da cidade.
No entanto, um estudo da Large Marine Invertebrates Research Institute Philippines (LAMAVE) mostrou que os movimentos anuais dos tubarões-baleia estão a ser modificados, assim como os seus hábitos de caça. Há ainda uma maior dependência dos humanos para alimento, com os animais a adotarem uma posição vertical de alimentação, para tornar mais fácil a ingestão de comida atirada dos barcos.
“Eles não deveriam estar em águas rasas. Isto afeta a regulação da temperatura corporal, causando stress ao animal, tornando-o mais suscetível a doenças e a reprodução pode ser afetada”, explicou AA Yaptinchay, diretor do Marine Wildlife Watch das Filipinas.
https://zap.aeiou.pt/pescadores-milhoes-proteger-tubaroes-276616